A Universidade Federal da Bahia lamenta o falecimento do professor aposentado e ex-diretor da Faculdade de Economia Paulo Rebouças Brandão.
Paulo Brandão ingressou em 1972 como docente na Faculdade de Economia da UFBA, onde ocuparia o cargo de diretor na década de 1980. Pesquisador de destaque, Brandão integrou o primeiro corpo docente do Programa de Pós-Graduação em Economia – então "Mestrado em Economia", com a primeira turma ingressando em 1973 – e foi autor da primeira pesquisa publicada no âmbito do recém-criado programa: "Contas consolidadas do Setor Público municipal da área do diagnóstico socioeconômico da região cacaueira", resultado de convênio da UFBA com a Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), em 1973.
Brandão esteve entre os pioneiros, na UFBA, em ações de internacionalização da pesquisa, tendo cultivado diálogo e intercâmbios com pesquisadores de universidades norte-americanas e britânicas. Essas parcerias resultaram, entre outros frutos e laços, na projeção internacional de pesquisas sobre desenvolvimento econômico regional baiano, temática à qual se dedicou, a exemplo do livro "Diversification of the Economy of the Cacao Coast of Bahia, Brazil, publicado em 1961, em coautoria com Rayfred L. Stevens, da Clark University em Massachussets, EUA.
Entusiasta e defensor da UFBA mesmo nos momentos mais difíceis, Brandão é lembrado por colegas, funcionários e gerações de ex-alunos por sua generosidade – como atestam, a seguir, os depoimentos do reitor João Carlos Salles e do vice-reitor Paulo Miguez, estudantes de graduação em economia nas décadas de 1970 e 1980. Seu filho Eduardo recorda a forte relação do pai com a comunidade e o espaço da Universidade, em especial com o edifício da Faculdade de Economia, na Piedade, onde, mesmo já aposentado, aparecia frequentemente para molhar as plantas do jardim da escola, carinhosamente batizado com seu nome.
Paulo Rebouças Brandão deixa esposa – a professora aposentada da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas Maria de Azevedo Brandão – , três filhos e sete netos, além de amigos e colegas, aos quais a UFBA estende sua solidariedade.
PAULO REBOUÇAS BRANDÃO
João Carlos Salles
A Universidade Federal da Bahia vive hoje um luto profundo. Faleceu Paulo Rebouças Brandão. Difícil lembrar alguém mais cuidadoso, mais atencioso com as pessoas e, saibam todos, com nossa instituição. Em momentos difíceis, quando alguns, às vezes, se afastam ou não acham necessário fazer algo, ele se aproximava, cuidava, aconselhava, acolhia. Em sua trajetória na UFBA, muitas são as pessoas que ele ajudou – não raro, lançando mão de seus próprios recursos. E, confesso, ele fazia isso de forma tão despojada e espontânea que, com sua calma desconcertante, algumas vezes tive dificuldade para entender. Queria às vezes lhe dizer: não se incomode, Paulo; vamos conseguir enfrentar e sair dessa. Fique tranquilo, Paulo, estamos atentos; vamos resolver.
Paulo Brandão, porém, nunca sentia um problema de amigos ou da UFBA como se não fosse também um problema seu. Persistente, em sua faina, continuava a cuidar da família, dos amigos, das pessoas, sempre à frente de projetos que, na organização de um encontro, de um livro, ou em alguma ação institucional, nos irmanavam e visavam a nosso bem comum. Todos hão de lembrar de seu zelo, de como ele se aproximava para conversar, para convidar, para propor, com sua voz mansa e quase hesitante, mas com o olhar de um pai amoroso ou com o entusiasmo de um amigo de infância, acaso reencontrado. Com isso, seus gestos, mesmo frequentes, podiam parecer inesperados, incomuns – talvez pela simples razão de serem completamente generosos. A UFBA vive, pois, um luto profundo, rogando-lhe, enfim, Paulo, que continue a nos abençoar e proteger.
Professor PAULO BRANDÃO
Paulo Miguez
Tristeza profunda, experimenta hoje a UFBA com a partida do Professor Paulo Brandão. Vai fazer muita falta a sua presença sempre entusiasmada, atenta e cuidadosa com a nossa Casa, sua voz calma, seus gestos mansos, seus conselhos. Certamente são muitos os depoimentos que poderão dar conta da sua importância para a UFBA. O meu, aqui, será num tom pessoal. É que pude experimentar sua generosidade quando ainda jovem estudante de Economia da nossa Universidade, na metade dos anos 1970. Aprovado na seleção para a monitoria da disciplina Economia Regional, ministrada por ele, por razões de ordem política tive minha contratação vetada pelos órgãos de segurança que atuavam na Universidade. Paulo chamou-me a sua sala e disse: “fique tranquilo; vou contratar você como assistente do meu grupo de pesquisa e pago com recursos do meu próprio bolso.” E assim foi, para minha alegria, já que dependia daquela pequena remuneração para tocar a vida em condições típicas de um estudante sem recursos.
Pois bem. Em 2014, na cerimônia da nossa posse no Salão Nobre da Reitoria, lá estava o Prof. Paulo Brandão para abraçar a João Carlos e a mim. Disse-lhe, então, que quem estava recebendo seu abraço não era o recém-empossado Vice-Reitor da UFBA, mas sim um jovem aluno seu de Economia que não podia deixar passar a oportunidade para agradecer, uma vez mais, pelo generoso e corajoso acolhimento, tantos anos atrás e em tempos tão difíceis. Ganhei mais outro abraço, que veio acompanhado de um largo sorriso e de uma observação .... “nem me lembrava mais”.
Professor, seu antigo aluno não vai poder estar presente para a despedida. Mas, tem nada não. É que, sabemos todos, este seu aluno e a sua Casa, a nossa UFBA, não será agora que ficou “encantado” que vai deixar que nos falte força e coragem para seguirmos em frente. Descanse em paz!