Alunos da Georgia fazem intercâmbio no Instituto de Saúde Coletiva

Visita dos alunos da GSU ao Instituto Steve Biko

Um grupo de oito alunos da Escola de Saúde Pública da Georgia passou uma semana em Salvador, num projeto que faz parte das atividades de intercâmbio acadêmico entre aquela instituição e o Instituto de Saúde Coletiva (ISC) da UFBA, entre os dias 11 e 17 de março. Os principais temas de interesse do grupo eram justiça social e condições da saúde pública no Brasil. A Escola é baseada na cidade de Atlanta, Georgia, e integra a Georgia State University (GSU), nos EUA.

Coordenado pelas professoras da GSU Kim Renee Ramsey-White e Cyntoria Johnson, o projeto é, de certa forma, inovador, na medida em que propõe uma experiência de vivência intercultural a estudantes que cursam os primeiros, e não como de praxe os últimos anos da universidade norte-americana – o ciclo profissionalizante, para alunos com idades entre 19 e 21 anos.

“Queríamos construir um programa específico para esses estudantes, para que pudessem aprender sobre outras culturas e ter uma experiência global significativa antes de começarem suas carreiras. E que, antes de tudo, fosse uma experiência extraordinária para cada um deles”, contou a professora Cyntoria Johnson, instrutora clínica no Departamento de Justiça Criminal e Criminologia.

Os estudantes da GSU que fizeram o intercâmbio em Salvador já haviam concluído um primeiro ciclo básico de formação nas áreas de sociologia, enfermagem, justiça criminal e saúde pública. “Apesar de majors diferentes, o objetivo do estudo e da viagem para Salvador era oferecer a eles uma visão mais ampla, comparativa e global sobre questões relacionadas a justiça social e saúde pública no Brasil”, afirma Cyntoria.

Antes de vir ao Brasil, cada estudante escolheu um tópico relacionado ao tema para pesquisar durante a estada na capital baiana. Entre os temas escolhidos estavam estudos de gênero, racismo e sexismo; análise da estrutura política e econômica no passado e no presente; o impacto da Copa de 2014 nos cidadãos; alimentação e saúde dos brasileiros; drogas e crimes, além do sistema educacional do país.

“A relação entre a Escola de Saúde Pública da Georgia e a UFBA não é de hoje” disse o pró-reitor de Planejamento e Orçamento (Proplan) Eduardo Mota. Ex-diretor do ISC, Mota lembrou que em 2016 foi realizada a segunda edição do curso de extensão “Saúde Coletiva no Brasil – Pesquisa e Prática em Salvador, Bahia”, para 16 alunos do Programa “Global Public Health” do Mestrado em Saúde Pública da Escola de Saúde Pública da Universidade Estadual da Georgia, sob acoordenação da professora Christine Stauber,daquela escola. Em maio deste ano ocorrerá a terceira edição do curso, e o reitor (dean) da Escola de Saúde Pública da GSU, professor Michael Eriksen, fará uma visita oficial à UFBA entre 15 e 20 do mesmo mês.

Atividades e acolhimento

Durante a estada em Salvador, o grupo interagiu com a cultura soteropolitana através de um conjunto de atividades. Tiveram aulas sobre o candomblé e visitaram um terreiro, conheceram o Instituto Steve Biko (organização não-governamental que desenvolve diversas atividades no campo político e educacional de combate à desigualdade racial), e estiveram também na Escola Aberta do Calabar, onde puderam interagir com as crianças e pintar um muro com elas.

Na quinta feira, 16, os alunos tiveram uma aula no ISC com a professora Clarice Mota, pesquisadora na área de saúde da população negra, sobre saúde pública e justiça social, abordando conceitos como equidade e vulnerabilidade. “A aula com Clarice foi muito instigante. Discutimos bastante sobre como muitas pessoas são marginalizadas, discriminadas por sua aparência, como muitas não têm o acesso a saúde pública que deveriam ter. Foi muito bom ter professores compartilhando suas experiências e estudos com o nosso grupo, aprendemos muito. Foi interessante ver como a nossa situação nos EUA é similar”, contou Kim Ramsey, professora de saúde pública e métodos de pesquisa da GSU.

Os alunos ressaltaram como gostaram do “homestay”, o acolhimento que tiveram pelas famílias que os hospedaram. “Gostei muito da maneira como minha ‘família’ me recebeu. Fazíamos as refeições juntos, eles se preocupavam comigo, perguntavam o que eu iria fazer no dia seguinte, e agora que estou indo embora, estão dizendo o quanto vão sentir minha falta. Foi muito legal passar esse tempo com eles, me senti parte da família”, contou Nicolette Castelli. “É a primeira vez que saio dos Estados Unidos, para mim é tudo novo, nova religião, nova comida, novas pessoas, cultura. Minha família me ajudou bastante na adaptação”, disse Jeremy Bun.

Os alunos identificaram semelhanças entre os EUA e o Brasil. “Foi muito interessante perceber como muitos problemas do Brasil são similares aos dos EUA, a exemplo do racismo e alguns problemas políticos”, disse Bradon Beasley. Uma colega da professora Kim que também participou do intercâmbio, Sonda Abernathy, disse ter aprendido bastante. “Uma das coisas que ganhei muito aqui no Brasil foi a percepção da consciência cultural que os brasileiros têm. Quando fomos ao Calabar, pude perceber como as pessoas são orgulhosas de sua cultura, de quem são. A comida, a música, tudo tem um sentido muito forte. Sendo afrodescendente, senti uma conexão com o Brasil, que me faz querer voltar outras vezes.”

Fazendo um balanço sobre a experiência que tiveram, os alunos disseram que não vão voltar os mesmos para casa. “Vendo os problemas no Brasil, aprendi o valor da comunidade e a importância do coletivo para mudar as coisas”, disse Jeremy. “Pude reconhecer meus privilégios, e a partir dessa percepção vou lutar por um mundo melhor e menos desigual”, resumiu Hailey Chenault.

Uma das razões para o estabelecimento e manutenção do convênio de intercâmbio acadêmico entre a UFBA e a GSU, destacou o professor Eduardo Mota, é de fato a proximidade de situações entre Salvador e Atlanta, onde há também uma grande parcela da população afrodescendente e desigualdades socioeconômicas. A GSU é uma universidade estadual com programas de inclusão para a população negra local e linhas de pesquisa sobre desigualdades sociais em saúde que a aproximam da UFBA.

Fonte: Edgar Digital.