Nota da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia
sobre o crasso erro curricular e formacional da SMED-SALVADOR, através dos seu secretário Marcelo Oliveira e equipe
Ao intencionar retirar do currículo da educação fundamental pública municipal os componentes arte, educação física e inglês (Primeiros e segundo anos do Ensino Fundamental I), o Engenheiro Eletricista, atual secretário da educação Marcelo Oliveira e sua equipe cometem um erro sem precedentes tanto em termos curriculares como formacionais. Acrescem, pois, a esse ato uma agressão à profissionalidade e à valorização do trabalho docente vinculadas a essas áreas do saber escolar já consolidadas nas melhores experiências de estados brasileiros e países nos quais a educação é reconhecida pela qualidade da sua efetivação.
O senhor secretário e sua equipe repetem o reducionismo tecnicista que nosso país tanto lutou para superar. Assim, simplificam as especialidades por absoluto desconhecimento de como professores(as) licenciados(as), com suas especialidades, formam-se com a necessária qualificação e riqueza pedagógica para desenvolverem, de forma socialmente referenciada, suas atividades docentes.
Cumpre dizer que as densas contribuições desses(as) docentes especialistas vão ao encontro do que seja hoje uma formação em profundidade, interdisciplinar, multirreferencializada e crítica, pauta fulcral para uma educação conectada com o mundo contemporâneo e suas complexas demandas. O senhor secretário e sua equipe não podem “esquecer” que a escola deve formar para o presente e para um mundo cada vez mais relacional e cosmopolita, com seus problemas e soluções. Desconhecem, com essa atitude reducionista, que focar em prioridades circunstanciais não necessariamente significa negar uma formação na qual as sensibilidades das estéticas das artes, das experiências e culturas valoradas e formacionais do corpo e da ampliação da comunicação mundializada com o aprendizado de línguas outras compõem um conjunto irredutível tanto em termos pontuais quanto no que se refere às transversalidades do mundo em que vivemos. Ademais, aguçam e ampliam o pensamento intercrítico entre os diversos saberes.
Há que realçar ainda que vem sendo muito fácil, sob a justificativa de uma operacionalidade socialmente não sustentável, negar aos(às) estudantes da educação pública a riqueza formacional à qual têm direito indiscutível.
Esse tipo de ajuste instrumental e iníquo, intencionado pelo secretário da SMED e sua equipe, repete o ethos, a ética e a visão sociotécnica vinculados às origens da invenção do currículo tecnicista dos idos do século passado, no qual o autoritarismo tecnicista curriculante pautou-se sempre em fazer currículo para o(a) outro(a), sem o(a) outro(a), muitas vezes contra o(a) outro(a). Esse é caso do que estamos assistindo e corre o risco iminente de acontecer através da SMED.
Diante desse cenário de intensas críticas, o que a SMED terá que fazer é ouvir, com atenção, as posições dos(as) docentes, das entidades, referentes às suas intenções aqui tratadas, assim como vem reagindo as instituições educacionais dedicadas à formação na Escola Básica.
Por concluir, faz-se necessário a urgente consciência de que não se mudam currículos simplesmente por ajustes instrumentais de componentes, até porque a qualificação da formação, no mundo contemporâneo, demanda uma profunda e densa compreensão do que seja formação sociotécnica, política, ética, estética, cultural, espiritual e suas transingularidades.
Salvador, 31 de janeiro de 2022.
Prof. Dr. Roberto Sidnei Macedo
Coordenador do Fórum das Licenciaturas UFBA
Diretor da FACED/UFBA
Prof. Titular da FACED/UFBA