A participação feminina na política e o machismo foram temas de debate na UFBA

Debatedoras convocaram as mulheres para a luta

Na segunda-feira (18/04), foi realizado na Reitoria da UFBA o debate “O empoderamento das Mulheres, a Mídia e a Luta pela Democracia”, com a presença das debatedoras Olívia Santana, Secretária Estadual de Políticas para as Mulheres da Bahia e Presidenta do CDDM; Nadja Vladi, jornalista e professora da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia; Fátima Oliveira, articulista do Portal Geledés e Conselheira da Rede de Saúde das Mulheres Latino-americanas e do Caribe; Daniela Portugal, Mestra em Direito Público e Professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA); Rosangela Araújo, Coordenadora do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher (NEIM); e Anna Carvalho, professora de Literatura.

O debate foi coordenado pela Pró-Reitora de Ações Afirmativas e Assistência Estudantil da UFBA, Cássia Virgínia Maciel. O reitor da UFBA João Carlos Salles participou da abertura do evento e destacou a série de debates que estão sendo promovidos pela Universidade, com o objetivo de propor a reflexão sobre temas importantes para a sociedade. O reitor fez a saudação inicial ao público presente, composto por juristas, jornalistas, mulheres que exercem cargos públicos e ativistas dos movimentos sociais.

A Secretária Estadual de Políticas para as Mulheres da Bahia, Olívia Santana, falou em seguida afirmando a necessidade de discutir o empoderamento das mulheres e de levar para a população informações relevantes, especialmente no cenário atual em que o discurso machista e misógino tem ganhado expressão nos meios de comunicação e no debate político. Ela disse acreditar que, através do debate, as mulheres possam sair mais fortalecidas para a luta prática e teórica e prontas para trilharem os caminhos que elas desejarem. 

A professora Daniela Portugal falou sobre os recorrentes casos de violência contra a mulher, em muitos casos praticados pelos seus próprios companheiros, e comentou também sobre os casos de machismo na mídia e os abusos cometidos por parlamentares em seus discursos. A professora citou o exemplo da matéria publicada neste ano pela revista Istoé que retrata a presidenta Dilma como uma mulher histérica, buscando desqualificá-la sob uma ótica machista e ofensiva à capacidade das mulheres.

Em sua fala, a médica Fátima Oliveira disse que, apesar dos últimos governos presidenciais terem apostado em uma política de conciliação de classes, continua havendo no país a luta de classes, estando de um dos lados uma burguesia racista, machista e apoiada pela grande mídia. Ela considera existir um cenário complicado para as mulheres atualmente, onde o fundamentalismo está querendo fazer as leis, inclusive subtraindo direitos conquistados.

A jornalista Nadja Vladi citou o grande número de casos de violência contra as mulheres no país, que, no entanto, recebem pouco espaço nos meios de comunicação. Nos casos pontuais em que esse tipo de crime recebe atenção, trata-se de uma mulher branca. Ela também falou sobre a terceira onda do feminismo que tem lugar agora nas redes sociais, destacando campanhas como “Meu Primeiro Assédio” e “Meu Amigo Secreto”, que foram promovidas para denunciar os assédios sofridos pelas mulheres. Para ela, esse tipo de informação não teria espaço na mídia tradicional.

A Coordenadora do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher (NEIM/UFBA), Rosangela Araújo, chamou atenção para a o reduzido número de mulheres e negros no congresso nacional e também reclamou sobre a forma com que as mulheres são tratadas naquele espaço, comandado por homens brancos que reafirmam o seu projeto de poder, evidenciado por expressões de desajuste moral e violência cometidas por parte dos parlamentares. Ela recordou o caso da deputada Maria do Rosário, que foi ofendida e ameaçada de estupro pelo deputado Jair Bolsonaro. Contudo, a coordenadora do NEIM disse que se considera uma pessoa otimista e que acredita no compartilhamento de saberes como uma possibilidade de superação desse cenário, impulsionada por uma juventude que se interessa pelo debate e que vai à luta.

Durante o evento, o Salão Nobre da UFBA foi decorado com imagens de importantes mulheres que contribuíram na luta pela democracia e pelo empoderamento feminino, como Ana Alice Alcântara, Loreta Valadares, Simone de Beauvoir e Maria Quitéria. Também foram destacados em cartazes conquistas dos movimentos feministas na legislação brasileira com a aprovação da Lei Maria da Penha e a Lei das Domésticas. O evento foi realizado pelo Conselho Estadual de Defesa dos Direitos das Mulheres da Bahia (CDDM), com o apoio da Secretaria Estadual de Políticas para as Mulheres da Bahia (SPM-BA).