O desenvolvimento de uma tecnologia social pelo bem-estar da comunidade da Universidade Federal da Bahia foi apresentado e amplamente debatido durante a mesa “PSIU - Estratégias para a saúde mental e o bem-estar na UFBA", realizada na manhã do primeiro dia do Congresso UFBA 2018. A atividade que trouxe como debatedores o coordenador do Programa PsiU – Universidade, Saúde Mental e Bem-estar da UFBA, o psiquiatra Marcelo Veras mais os psicólogos do Plantão de Acolhimento, Luiz Felipe Monteiro, Regina Raposo, Jussara Guerra, Vládia Jucá e Thaís Goldstein, traçou um panorama do serviço que é aberto a todos os integrantes da UFBA – estudantes, docentes e técnico-administrativos – de forma desburocratizada, sem a necessidade de marcações, inscrição ou cadastro e com o objetivo de acolher inquietações ligadas à vida acadêmica, à própria casa, ao deslocamento ou outros temas que estejam perturbando a vida do indivíduo.
Veras destacou que a atividade surgiu de maneira “curiosa diante da necessidade de tentar encontrar e acolher quem quisesse falar sobre suas inquietações sem parecer um serviço de emergência psiquiátrica”. De acordo com o especialista em saúde mental, “o foco é muito mais acolhimento que medicalização”, disse ressaltando que “Dá-se atenção para as questões que surgem a partir de um mal-estar generalizado, num ambiente universitário que se alterou após a nova configuração da universidade com o ingresso de estudantes quilombolas, indígenas e de outros estados.
O sofrimento dos sujeitos na UFBA pode se intensificar diante de “questões como insegurança, inquietações quanto ao pertencimento e a pressão da vida acadêmica, numa instituição cujo papel é gerar expectativas de futuro”, ponderou ele. As afirmações de Veras foram ratificadas pelas estatísticas apresentadas pela psicóloga Regina Raposo que listou as principais queixas dos frequentadores do plantão de acolhimentos: a relação com o curso e a universidade, com a família, ansiedade, angústia, questões financeiras e sociais.
Por isso era necessário desenvolver uma tecnologia social para lidar essas questões, pontuou o médico. “E aos poucos, foram surgindo várias “orelhas” na universidade para ouvir as queixas de sofrimento que vão muito além de bullying e estresse”, assegurou. De acordo com Raposo, problemas como a violência, racismo, desenraizamento, dificuldades de inserção na vida profissional, angústias, tristezas, pensamentos de mortes e suicídio também integram a lista das queixas.
Nesse aspecto, o psicólogo, que também integra a equipe do PsiU, Luiz Felipe Monteiro, enfatizou “o caráter inovador do PsiU, pois vale-se de novas formas de tratar o sofrimento psíquico, afastando-se da perspectiva que penas se refere às patologias e transtornos mentais”. Para a psicóloga Thaís Goldstein, para frente a tais sofrimento é preciso desenvolver um olhar microscópico, olhando para dentro do indivíduo e também um olhar telescópico, mirando as relações exteriores em que os indivíduos estão imersos”.
Serviço acessível e desburocratizado
Desse modo, “oferecemos nosso acolhimento segundo a lógica de como o mal-estar se apresenta na universidade, pois a maneira burocrática dos serviços de saúde mental reforça o sofrimento devido à dificuldade de acesso”, disse Medeiros. “A maneira difusa de funcionamento do nosso plantão de acolhimento está em harmonia como as pessoas sofrem na UFBA e de uma forma acessível e descomplicada estamos abertos para que venham falar para reelaborar o sofrimento”, explicou.
Veras enfatizou que essa característica de “não estar estruturado e estar se reinventando, pode até parecer uma fragilidade, mas é o que há de melhor em nosso serviço”. Para ele, é muito importante o fato de que o PsiU vai os poucos ocupando espaços vazios, sentando na grama, promovendo encontros onde antes não havia e dando atendimento prioritário a quem passa por maiores sofrimentos e estando acessível para todos que o buscam”.
Além disso, “a escuta do PsiU traz a humanização dos sentimentos, pois não dar conta de tudo, faz parte da vida”, afirmou a psicóloga do Hospital das Clínicas, Jussara Guerra. Com sua vasta experiência no atendimento hospitalar, ela atesta “a angústia e a tristeza diante das várias frustrações na vida universitária” são queixas antigas que precisavam ser direcionadas.
Já a psicóloga e professora da Faculdade de Educação da UFBA, Thaís Goldstein, demonstrou sua preocupação em como fazer gente os elementos presentes na universidade que produzem tais sofrimentos. Ela que está à frente do projeto de extensão Sankofas, aprendeu a atuar em atividades itinerantes visando chamar atenção das pessoas onde elas estão.
Goldsthein contou que as andanças realizadas pelo Sankofas têm permitido a reelaboração dos sofrimentos e formação de redes na Universidade. “Vamos aos espaços cotidianos da Universidade para circular, ouvir, conhecer as experiências, perceber as demandas, orientar projetos possíveis e articular saberes”, declarou a docente.
De acordo com a Pró-reitora de Desenvolvimento de Pessoas, Lorene Pinto que assistiu às colocações da mesa, “o surgimento de um programa de cuidado com a saúde mental das pessoas veio após muitos encontros e conversas preocupadas com a temática do sofrimento e que a instituição fosse capaz de se reinventar para atender com responsabilidade, promovendo um espaço mais humano e solidário”.
Desde então, já podem ser vistos alguns impactos da existência do acolhimento na UFBA como a “promoção do sentimento de pertencimento entre os estudantes para que eles se sintam como parte da Universidade”, concluiu Monteiro. Além disso, a escuta promove a valorização do indivíduo, o que favorece a permanência na vida acadêmica, ressaltou Raposo.
O serviço do plantão de acolhimento
O serviço de acolhimento foi montado a partir de uma atividade de exte
nsão e reuniu um conjunto de psicólogo que compõem a equipe de 23 profissionais – 16 são psicólogos extensionistas que são os plantonistas e sete sãos os membros da equipe de coordenação que são três psicólogos do corpo de servidores técnicos-administrativos da UFBA: Luiz Felipe Monteiro (PROAE), Regina Raposo (PRODEP) e Jussara Guerra (HUPES) com o apoio de três professoras Thaís Goldstein (FACED), Vládia Jucá e Virgínia Dazzani (Instituto de Psicologia) e todos sob a coordenação geral do psiquiatra Marcelo Veras.
O plantão de acolhimento funciona nas segundas, terças, quintas e sextas das 9 às 17 e na quarta-feira, das 9 às 12h. O atendimento se dá no período letivo do semestre e também nas férias das atividades acadêmicas. É possível também contactar o acolhimento via aplicativo de mensagem instantânea pelas plataformas digitais do Facebook, Instagram e Whats App (71) 99911- 2828.