Cerca de 10% dos estudantes atendidos pelo Plantão de Acolhimento do Porgrma PsiUFBA já apresentaram pensamentos consistentes de morte e 5% já realizaram alguma tentativa de suicídio ou seja, quase 20 deles. O Setembro Amarelo, dedicado à prevenção ao suicídio, começa na UFBA com a exibição do filme da cineasta Sofia Copolla, “Virgens Suicidas”, a partir das 9h30, deste sábado (dia 1º/09), na Sala de Arte Cinema da UFBA, no Canela. Logo depois, acontecerá um bate-papo com o objetivo de estabelecer um diálogo sobre o tema do suicídio com pessoas da comunidade universitária, mediante conversa facilitada pelo coordenador do Programa PsiUFBA, psiquiatra Marcelo Veras e do psicanalista, Luiz Felipe Monteiro. A atividade é gratuita e aberta a estudantes, professores, técnicos-administrativos e terceirizados.
As ações de atenção ao problema do suicídio já começaram desde o mês de julho, destacou Veras, citando a criação do Núcleo de Estudos Psicanalíticos Pinaúma – Psicanálise na Universidade numa parceria entre o Programa Psiu e o Instituto de Psicanálise da Bahia e são debatidos temas relacionados à questão do mal-estar na comunidade universitária como um todo, explicou. Nas duas últimas aulas, que foram realizadas na sala de reuniões da Superintendências de Desenvolvimento Institucional (SUPAD), em Ondina, foi abordado o tema do suicídio que também predominará nas próximas duas aulas.
“Não podemos tratar de suicídio atribuindo-o a uma única causa. Não podemos atrelar ou divulgar a ideia de que houve uma única causa para o ato, explicou. Quando o suicídio acontece é porque teve um fato que perturbou mais o sujeito. E também nunca vamos trabalhar o suicídio como pertencente a uma categoria de doenças ou a um nicho social específico”, ponderou Veras. Do total de pessoas atendidas pelo Acolhimento, precisou-se usar o marcador de “atenção” para, pelo menos, 15% dos casos, devido à ideação suicida, possíveis passagem ao ato, surtos e automutilações, revelou a psicóloga da PRODEP/UFBA, também integrante do PsiU, Regina Raposo. Por isso, “ é feito um trabalho de escuta e construção do diálogo que promove uma elaboração que o sujeito vai para outro caminho que não de morte e destruição”, disse o psiquiatra.
“Tanto o pensamento suicida quanto o ato revelam que há um impasse subjetivo na pessoa, que há um conflito que não está conseguindo encontrar uma outra manifestação a não ser em pensamentos de morte. O acolhimento, realiza um trabalho de elaboração do suicídio, o que significa dar um tratamento desse impasse na prática”, orientou Monteiro. “O suicídio revela que algo pode ser elaborado e a gente aposta nisso! E é a via da palavra, que pode construir um significado sobre o que está acontecendo e esse impasse pode encontrar outro destino. O pensamento suicida é algo eminentemente humano. Não é anormal ou patológico. É uma questão de elaboração”, disse o psicólogo da PROAE, Luiz Felipe Monteiro, também integrante do PsiU.
As vezes em só um encontro a pessoa já sai mais tranquila. Há casos mais preocupantes que recebem uma atenção maior e “com bandeirinhas” para entrarmos em contato se ele passar muito tempo sem voltar, disse Raposo. A grande maioria das tentativas de suicídio são apelos ao outro que são erroneamente tratados como mera manipulação. “É preciso ter muito cuidado e não desprezar esse ato”, alertou Veras.